O caminho para superar a crise como nação é olhar para os fatos excluídos do nosso passado histórico

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"O caminho para superar a crise como nação é olhar para os fatos excluídos do nosso passado histórico e honrar aqueles que vieram antes."

O alemão Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar, e sua esposa Sophie comentaram sobre a crise de nosso país durante o Seminário Internacional de Constelações Familiares em Brasília, em 2016. Para eles, a chave para sairmos disso como nação é olharmos para os fatos obscuros do nosso passado histórico e honrarmos aqueles que vieram antes. Por uma razão simples: tudo aquilo que a gente exclui de nossas vidas nos prende e tudo aquilo que a gente inclui e aceita nos liberta.

Reflita comigo: quais são os fatos negados, ocultados ou ignorados do nosso passado? Uma lista rápida vai incluir necessariamente o genocídio das nações indígenas, a escravatura, as guerras travadas no e pelo Brasil – e contadas pela metade nos livros didáticos (como a Guerra do Contestado e a Guerra do Paraguai) -, as atrocidades da ditadura militar e por aí vai.

O casal Hellinger disse que enquanto a população brasileira também excluir os povos de origem, nosso país continuará a ser ingovernável. Quem são aqueles que vieram primeiro, antes de o Brasil ser instituído como nação soberana? Os índios. E quem veio depois e ajudou a formar o país como conhecemos hoje? Os portugueses e africanos.

Os índios nativos que não se curvaram foram mortos, os que sobreviveram foram “catequizados” e proibidos de seguir suas tradições. Seus descendentes hoje ainda lutam pelo direito de viver em suas próprias terras. Os africanos trazidos à força foram escravizados e seus descendentes ainda carregam a herança do racismo. Mulheres índias e negras foram estupradas e subjugadas pelos homens europeus que aqui chegavam e suas descendentes ainda carregam este trauma e direcionam sua raiva e desprezo aos homens de hoje. Os portugueses sempre foram alvo de chacota e piadas desrespeitosas e são apontados por muitos como a causa da corrupção sistêmica que se instalou atualmente no país.

Como avançar como nação com toda essa exclusão? Dessa forma nós violamos dois dos princípios fundamentais para o desenvolvimento de qualquer sistema: a ordem (hierarquia) e o direito de pertencimento.

Respeitar a ordem dentro de qualquer sistema – uma família, uma empresa ou país – é reconhecer e honrar quem veio primeiro, as raízes. É preciso dar um lugar em nossos corações a todos esses povos, culturas e nações. Afinal, somos quem somos e estamos onde estamos graças àqueles que vieram antes de nós e a tudo o que viveram. Só existe árvore grande e frondosa com raízes fortes e profundas. Caso contrário, o destino é a queda.

Existe uma forma de nos colocar em paz com o nosso passado histórico: olhando e aceitando tudo o que foi, da forma como foi, sem lentes cor de rosa e sem rejeição. Ao adotar essa postura, podemos enfim reconhecer e honrar nossas origens. E ao abrir mão do julgamento, algo mágico acontece. Podemos deixar o passado no passado. Não será mais preciso revivermos aquilo que foi difícil e teremos a força para irmos adiante, em direção ao novo, ao criativo.

Dentro desse olhar sistêmico, compartilho abaixo um exercício que nos leva a olhar para nosso país com mais respeito (contribuição de Idemar Menon).

Pare nesse momento… respire 3 vezes profundamente e vibre:

“Brasil, eu sinto muito por tudo que eu e meus antepassados fizemos com você, me perdoe pela minha inconsciência e de meus antepassados. Eu te agradeço por ser uma terra fértil e abundante de alimento e água, com o melhor clima do mundo, sem desastres naturais e sim só desastres que nós homens produzimos devido a nossa inconsciência, Brasil eu te amo, porque você é o país onde meu espírito escolheu evoluir, e não irei te decepcionar. Brasil amado, perdoe a nossa inconsciência, nós não sabemos o que estamos fazendo”.

Texto: Alice Duarte
Photo: Rodrigo Petrella

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